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Práticas responsáveis crescem em pequenos e médios negócios

Levantamento realizado pela Akatu e pelo Instituto Ethos mostra que o ritmo de comprometimento com a responsabilidade ambiental e social aumenta em negócios de menor porte

Nos anos 90, com o processo de abertura comercial e o aumento no país de itens oriundos de mercados mais desenvolvidos, uma empresa brasileira que possuísse a certificação ISO 9000, sinônimo de qualidade de produtos e serviços, tinha lugar praticamente garantido entre consumidores. Na década seguinte, com o mundo mais globalizado, foi a vez de o preço dos produtos se mostrar um fator concorrencial. Agora, quando qualidade e preço são naturalmente esperados, há um dado novo rondando o mundo corporativo, capaz de fazer com que uma empresa se sobressaia ou seja condenada: estima-se que, de cada três brasileiros, dois condicionem a compra de um produto à forma como a companhia lida com a responsabilidade social, segundo pesquisa do Instituto Akatu sobre a percepção do papel social de empresas. "Se a empresa usa,por exemplo, trabalho infantil ou escravo na sua cadeia produtiva, pode automaticamente ser desprezada pelos consumidores", diz Rafael Oliveira, gerente de sustentabilidade da Key Associados, consultoria especializada no tema.

Outro estudo da Akatu, realizado em 2008 em parceria com o Instituto Ethos e divulgado em2009, sobre as práticas e as perspectivas da responsabilidade social nas companhias brasileiras, revela que o envolvimento das empresas com a sustentabilidade aumentou de forma significativa a partir de 2004. O crescimento foi percebido pela quantidade de práticas de responsabilidade social implementadas. Das 56 práticas avaliadas pela pesquisa, pelo menos 22 foram incorporadas por 50% das empresas ouvidas. O número é o dobro do verificado em um levantamento semelhante feito pela Akatu quatro anos antes, quando o segmento havia absorvido apenas 11.

O mais relevante, e também o que mais chamou a atenção de especialistas, é que o comprometimento maior com a responsabilidade social detectado na pesquisa foi identificado entre as pequenas e médias empresas, que representaram 92% das respostas e que vinham caminhando até então a passos mais lentos do que as grandes em direção à sustentabilidade. "Isso, para o Sebrae, é muito importante, porque mostra que o pequeno e o médio empresário está mais receptivo ao assunto", avalia Dorlli Martins, consultora da área de Gestão e Inovação do Sebrae-SP. E o Sebrae tem tido uma participação efetiva nesse processo. Mantém cursos específicos para sensibilizar o pequeno e o médio empresário para a responsabilidade social. "A sustentabilidade, hoje, chega como um diferencial competitivo", afirma Dorlli.

RESÍDUOS DE OFICINAS MECÂNICAS

Foi de um desses cursos do Sebrae que nasceu, em 2007, uma empresa insólita: a Ecopalace, um centro de captação, seleção e destinação de resíduos e sucatas originadas em oficinas mecânicas. Papelão, filtro de óleo, solventes e suas embalagens, borrachas, carpetes e para-choques, que antes eram descartados para o lixo comum, têm agora como destino um dos 20 parceiros da empresa, entre usinas trituradoras de vidros e borrachas, por exemplo, que ficam com esses materiais para a fabricação de novos produtos, alguns voltados para o setor automotivo.Por mês, a Ecopalace, que tem apenas 20 funcionários, retira das 240 oficinas mecânicas e de serviços automotivos suas associadas 120 mil quilos de resíduos.

A ideia da Ecopalace surgiu de um dos quatro sócios da empresa, aquele que tem justamente uma oficina mecânica e portanto sentiu o problema de perto. "Ele já tinha consciência ambiental dentro da oficina dele, mas percebeu que a responsabilidade social que ele abraçou morria da porta da oficina para fora ao mandar todo tipo de resíduo, incluindo os recicláveis, para um lixão comum", conta Gustavo Valente, um dos proprietários, referindo- se a um de seus sócios. Com a Ecoplast, a borracha dos automóveis descartada nas oficinas, por exemplo, pode ser usada na fabricação de tijolos ecológicos, móveis de jardim e de praças públicas,feitos do cimento produzido após sua trituração. "Não há mais espaço para as empresas conduzirem seus negócios como era antes, é preciso olhar para a responsabilidade social, independente do setor ou do tamanho da empresa", diz Oliveira, da Key Associados.

Os consumidores não são os únicos que estão prestando mais atenção à ética, transparência e responsabilidade. Cresce o número de empresas que escolhem seus fornecedores de acordo com as práticas de sustentabilidade adotadas não apenas em relação ao meio ambiente, mas também nas suas relações de consumo e direito das relações de trabalho. Na avaliação de Carlos Nomoto, superintendente-executivo de Desenvolvimento Sustentável do Santander, grande parte das oportunidades e dos pequenos riscos aparece na cadeia dos fornecedores, onde está a maioria das pequenas e médias empresas. Por isso, diz, o segmento será forçado a mudar.

Ter na carteira clientes do peso de uma Petrobras, Usiminas,Cemig, Iveco,Valedo Rio Doce, Arno ou Valisère exige mais do que um bom produto. É preciso ser sustentável.

Izabel Carvalho, proprietária da Belpa Embalagens, de Belo Horizonte, Minas Gerais, empresa com apenas 34 funcionários diretos, tem todas elas na sua lista de compradores. Junto com um sócio, Izabel começou fazendo embalagens na garagem de casa 20 anos atrás, quando a responsabilidade social ainda não tinha o peso que tem hoje.No decorrer de duas décadas sua produção foi se alinhando aos padrões de sustentabilidade. Exigência do mercado, segundo ela, que começou a descartar quem não mantinha práticas de responsabilidade social. Ponto crucial para fazer parte da lista de fornecedores de algumas empresas. "Não uso mais a tinta como solvente, apenas à base de água, e a secagem é feita com uma lâmpada, o que reduz a insalubridade na fábrica", diz. A impressão das sacolas também é 100% ecológica.

Além do uso de produtos que não agridem o meio ambiente, a Belpa reaproveita os resíduos de sua produção para a fabricação de itens alternativos. "Os restos de papel das sacolas são reaproveitados na confecção de pequenos envelopes". Para otimizar sua produção e melhorar as condições de trabalho de seus funcionários, a Belpa terceirizou a fase de acabamento das sacolas, feita atualmente por pessoas da comunidade com renda mais baixa. O ajuste veio depois que Izabel participou do programa 10.000 Mulheres, criado em 2008 pelo banco de investimento Goldman Sachs. O programa visa formar mulheres empreendedoras oferecendo cursos que abordam temas como administração, marketing, gestão de negócios e planejamento." Foi um divisor de águas para o meu negócio."

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