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Por que seu escritório de contabilidade ainda não é uma empresa?

Vou direto ao ponto, sem rodeios: não basta mudar o nome

Vou direto ao ponto, sem rodeios: não basta mudar o nome. Chamar um escritório de contabilidade de empresa de serviços contábeis é insuficiente para que a transformação ocorra de fato. Afinal, a essência é mais importante que a forma, não é?

Quer fazer um pequeno teste? Responda às perguntas:

  • Você pode captar recursos de investidores ou abrir capital? Ou mesmo vender seu negócio sem restrições?
  • Seu empreendimento gera caixa o suficiente para fazer os investimentos necessários em tecnologia, qualidade de processos e desenvolvimento de profissionais?
  • Tem estrutura mínima de governança? A maior parte do seu tempo é gasto no papel de acionista, executivo ou técnico?
  • Tem uma estratégia clara para enfrentar a comoditização dos serviços de “tax compliance? Já está ofertando serviços de consultoria para melhoria performance empresarial?
  • Seu negócio preparado para enfrentar a concorrência de novos entrantes no mercado de consultoria?

Se estas questões não te incomodam, nem precisa ler o resto do artigo – provavelmente você já realizou a transição de escritório para empresa. Do contrário, aproveite a leitura.

Qual é o seu papel?

O capitalismo é um sistema imperfeito. Mas sua competitividade inerente elimina aqueles que não conseguem fornecer valor de longo prazo aos acionistas. Ao mesmo tempo, também incentiva as pessoas a fazerem coisas que os outros acham valiosas. É importante ressaltar que, se não houvesse lucro, não haveria incentivo para produzir bens e serviços valiosos. E como o lucro é resultante da agregação de valor à vida dos clientes, maximizar o valor para o acionista é um também um “produto agregado”. Cullen Roche, Let’s Talk About “Maximizing Shareholder Value”

Empresas de capital aberto constituem um conselho de administração formado por profissionais de diversas áreas. O principal papel do conselhos é agir defender os interesses dos acionistas. Para isto, são definidos os planos estratégicos de longo prazo e monitorados os indicadores chave da empresa. O líder do conselho é chamado de Chairman. O conselho também elege e avalia o desempenho executivos da empresa.

O CEO (Chief Executive Officer) ou Diretor Executivo é a pessoa com maior autoridade na hierarquia operacional da empresa. Ele é o responsável pela execução dos planos definidos pelo conselho e, claro, se reporta a este órgão. O CEO também lidera os demais executivos.

Na prática, tanto os excutivos quanto conselheiros buscam formas de ofertar produtos e serviços valiosos para os clientes e, obter lucro. A consequência será a maximização do valor da empresa para os acionistas. Em outras palavras, a alta direção será bem sucedida se o valor de mercado da empresa aumentar.

Em sua organização contábil, quem executa o papel de Chairman e CEO? Se você dedica seu tempo à execução, quem está dedicado à geração de valor para os clientes e acionistas?

Como descobrir o valor do seu negócio?

Existem alguns modelos básicos de avaliação do valor da empresa.

  • Fluxo de caixa descontado. Essa metodologia é muito utilizada para avaliar pequenos e médios negócios. O método analisa a capacidade da empresa de gerar riqueza no futuro (5 anos, em geral).
  • Avaliação por múltiplos de EBITDA. Ebitda é a sigla em inglês para Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization. O Ebitda representa a geração operacional de caixa da companhia, sem levar em conta os efeitos financeiros e de impostos.
  • Valor patrimonial. O valor patrimonial contábil de uma empresa é a soma de todos os seus ativos descontadas as dívidas e obrigações financeiras.

Seja qual for o método, o valor real de alguma coisa é sempre definido pelo mercado.

Ou seja, preço de algo é definido por quem compra. Exemplos cotidianos traduzem bem este conceito. Você já presenciou uma situação onde um amigo quer vender um imóvel e diz que “o meu apartamento vale X milhões”. Só que ele nunca acha comprador. Na realidade, o valor do imóvel é dado pelo preço que alguém pagou por ele. Não importa a metodologia que você utilizou para avaliar o metro quadrado do imóvel.

Isso também se aplica a uma empresa. As que têm ações em bolsa, o valor de mercado é dado instantaneamente, a cada operação de compra e venda de ações. Muitas vezes, fatores subjetivos alteram significativamente o valor de mercado de uma empresa. Pouco importa a metodologia de avaliação do valor.

O que o escritório de contabilidade tem com isso?

80% dos escritórios de contabilidade do Brasil têm, em média, a receita mensal de R$30mil e o custo da folha de pagamentos de R$20mil. O restante é utilizado para tributos, aluguéis, tecnologia e infraestrutura. As implicações desta situação são enormes.

Os sócios destes escritórios dedicam quase a totalidade de seu tempo em tarefas técnicas operacionais. Executando a escrituração contábil, fiscal ou processando a folha de pagamentos dos clientes.

Isto configura o “empreendedorismo de subsistência”. Os acionistas colocam como meta empresarial a remuneração do seu próprio trabalho. Tornam-se os funcionários mais caros de seus próprios escritórios.

Este tipo de negócio fica sem processo decisório de longo prazo. Ou seja, não há ninguém planejando o aumento do valor da empresa, nem criando estratégias de aumento do valor dos serviços para os clientes.

Sem recursos para investimentos…

O mercado de serviços de contabilidade é extraordinário (já expliquei isso aqui e aqui)

O fato de termos receitas mensais recorrentes com taxas de cancelamentos de contratos extremamente baixas torna este mercado muito atrativo. Em especial para aqueles que planejam fazer cross e up selling para seus clientes.

O modelo de negócios de escritório de contabilidade do século XX era baseado na atividade intelectual. O fator crítico de sucesso era apenas a equipe de profissionais qualificados.

No século XXI, a empresa de serviços contábeis é estruturada em um outro modelo de negócios onde a equipe é um dos fatores críticos de sucesso.

A tecnologia é outro. Além de proporcionar ganhos de eficiência, agrega valor aos serviços propiciando uma experiênciamelhor aos clientes. E o terceiro fator crítico de sucesso é a governança que estabelece o planejamento e controle de todos processos empresariais.

Mais uma vez, vou direto ao ponto: sem investimentos não há como executar a transição de escritório para empresa.

As regras normativas do mercado de serviços de contabilidade restrigem a captação de investimentos. Não somente isso, os marcos regulatórios reduzem o valor de mercado dos escritórios de contabilidade.

Em Portugal, por exemplo, uma empresa de serviços de contabilidade por ser constituída como Sociedade Anônima (SA), desde que o diretor técnico seja um Contabilista Certificado registrado na Ordem dos Contabilistas (OCC).

O modelo português aumenta o valor de mercado das empresas do setor e facilita muito a captação de recursos para investimentos. Ou seja, profissionaliza o setor.

Veja alguns exemplos de escritórios de contabilidade em Portugal que são Sociedades Anônimas:

  • Nucase – Contabilidade e Fiscalidade, S.A. – 1.500 clientes e 150 profissionais.
  • AC, Contabilidade e Gestão S.A. – 300 clientes e 30 profissionais.
  • MAZARS, SA – 3 escritórios, 150 profissionais.
  • NUCASE – Contabilidade e Fiscalidade, SA – 1.600 clientes em Portual e Angola.
  • Gesbanha, S.A – Oferece serviços de contabilidade e complementares Corporate Governance e Business Process Outsourcing (BPO).

Novos entrantes…

Justamente por isso, alguns empresários estão criando verdadeiras acrobacias jurídicas para viabilizar fusões, aquisições e captação de recursos. Entretanto, a maior parte destas manobras resolvem o problema no curto prazo e retiram o valor de mercado da empresa no longo prazo.

O fato é que o tamanho das oportunidades do mercado de serviços de contabilidade no Brasil já despertou o interesse de empreendedores de outras áreas como gestão, tecnologia e serviços financeiros.

Posso garantir que até mesmo investidores de outros países também estão de olho neste mercado.

Fim de papo!

Se os escritórios de contablidade não ofertarem serviços de consultoria para melhoria de desempenho empresarial ao mercado, os novos entrantes aproveitarão esta janela de oportunidades.

E, para aproveitar o momento, é preciso:

  • aumentar eficiência dos serviços de “tax compliance”;
  • ofertar novos serviços para melhoria da performance dos clientes;
  • estruturar a governança da empresa;
  • preparar a tecnologia e os processos para fusões, aquisições ou venda;
  • incoporporar a tecnologia na entrega dos serviços (e não somente na produção);
  • estruturar processos de marketing e vendas;
  • desenvolver as competências técnicas, gerenciais e comportamentais da equipe.

O momento é adequado para o setor repensar seus atuais marcos regulatórios à luz da nova economia. Enfatizo: um escritório de contabilidade depende somente da produção intelectual dos profissionais. Já uma empresa de serviços contábeis precisa de muito mais que bons profissionais. Ela é fundamentada no tripé: profissionais, tecnologia e processos.

Enfim, para transformar o escritório em empresa há um longo (e próspero) caminho.

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